De tempos em tempos


De tempos em tempos me torno outra, por respeito à mim mesma.
Me transformo, me multiplico, me olho.
Me busco, me encontro, me encaro,
Me tateio tanto, até me atar entre os dedos, meus.
Me reinvento, me entendo, me acalmo.
De tempos em tempos vou me tornando mais eu.
Mais do que ontem, mais do que o instante que acabou de passar, mais do que agora mesmo.
Me renovo, me troco, me escuto.
Me. Meu. eu.
Minha voz, meu cheiro, meu paladar.
De tempos em tempos, caminho.
Sempre à caminho do caminhar, pois ele nuca acaba.
Eu nunca chego aonde quero chegar, pois até chegar... já mudei o lugar onde queria estar.
Me confundo, me resumo, me profundo demais, e não consigo voltar.
Me desnudo por dentro, pra mim.
Me mudo, por dentro, pra mim.
Me mudo pra dentro de mim.
De tempos em tempos,
paro de me ver no passado e semeio sementes.
Me planto para o futuro presente.
Me curo. Me sinto, muito.
Me amo, me clamo, me re-clamo. Reclamo de mim?
De tempos em tempos venho perdendo o medo de entender quem sou...
Medo de entender que sou.
Só. Sou só. Sou, e só.
Me grito, me alcanço, me deixo escorrer, me deixo ser.
De tempos em tempos, eu sou: eu.


Minha autoria